quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Querido 2016

Neste que é o último dia de 2015 não podia deixar de escrever os meus desejos para este novo ano que se avizinha. O tempo de facto parece voar, mais um ano se passou e já estou novamente em frente ao computador a redigir a minha carta, não ao Pai Natal, mas a 2016.
Queria começar a agradecer por tudo o que me foi proporcionado em 2015. Vivi aventuras espetaculares, viajei, conheci novos sítios, conheci pessoas extraordinárias que quero levar para a vida, ultrapassei desafios que não me julgava capaz de ultrapassar, superei-me em muitas situações. Infelizmente, nem tudo foi bom, mas também não poderia ser tudo um mar de rosas; deparei-me com múltiplos obstáculos, alguns fizeram-me vacilar e outros até me fizeram cair por terra... Já me levantei de algumas quedas, já tenho algumas feridas saradas, outras ainda estão por fechar mas talvez um dia não passem de cicatrizes. Há que dar tempo ao tempo. Este tópico relembra-me que tenho também de agradecer a todas as pessoas que partilharam 2015 comigo. Algumas são novas e trouxeram mais brilho e felicidade à minha caminhada, outras já cá estavam e resolveram abandonar o meu caminho (tudo de bom para elas), mas outras, que já me acompanham há muito tempo permanecem e para essas um enorme obrigada! Um brinde a todas as pessoas que mudaram o meu ano! 
Não quero deixar nada para trás, nada mesmo. Quero levar tudo comigo para 2016 porque a pessoa que sou atualmente é a complexa combinação de tudo o que vivi até hoje e por isso não faz sentido deixar o que quer que seja para trás, bom ou mau. 
Agora tu, 2016. Espero que sejas melhor que 2015. És o tão esperado ano, o ano de todas as mudanças. O ano em que se decidirá o meu futuro.
Espero que tragas coisas boas, que me faças crescer, que me dês oportunidades inesquecíveis, que ponhas pessoas maravilhosas no meu caminho e que me permitas deixar para trás todas aquelas que apenas vão colocando obstáculos nele. Por favor, traz felicidade, saúde, trabalho e paz para a humanidade. 
2016, sê um ano feliz. 
Não se esqueçam de vocês, amem-se, cuidem de vocês e dos que amam. Não desistam de vocês e queiram sempre mais e melhor. Superem-se. Amem loucamente. Aprendam sobre algo novo. Conheçam o mundo. Arrisquem, façam coisas que vos desafiem. Não se acomodem, se querem algo lutem por isso! 
Um feliz ano novo!

mj 


terça-feira, 22 de setembro de 2015

Três cinzentas translações

fonte: weheartit

Querida Maria do 9ºano,
Está a começar o ano letivo e por isso sei que sentes aquele nervoso pequenino no fundo do teu estômago.
Não te vou dizer que três anos depois as inseguranças desaparecem como que se fossem varridas por uma vassoura de confiança, mas vou te dizer que ficam ligeiramente mais ténues.
Dizem que a idade dá sabedoria. Sabedoria não sei atestar se dá ou não porque três anos depois há gente que estagnou e outra que regrediu, mas sem dúvida alguma que existe um redistribuição da quantidade de paciência. Digo redistribuição pois não sei precisar se a quantidade se altera ou se simplesmente é organizada e utilizada de forma mais inteligente e rentável.
Se apenas te pudesse dar um conselho seria: tem calma, respira! 
Sei o quão frustrante é ouvir estas três palavras, sei o quanto elas nos tiram do sério mas acho que é tudo o que podes fazer. Pelo menos seria tudo o que eu faria se pudesse estar aí outra vez.
Vai com calma, não te chateies tanto com coisas sem importância. És superior a muitas das lutas que tens pela frente. Tem calma no que toca à escola, às notas e, principalmente, ao futuro. Sei que o nosso elevado grau de perfecionismo e as nossas numerosas e gigantescas expetativas tornam a tarefa bem mais difícil, porém será algo que te poupará, a longo prazo, muitos daqueles nossos ataques de nervos.
Não vim até aqui apenas para te dar um conselho, por isso aqui vai outro: considera a existência do cinzento, do não linear e do meio-termo. Nem tudo é branco e preto, nem tão linear como julgas. Nem tudo, ou nada mesmo, é absoluto. Não coloques limites tão severos ou permanentes, considera outras opções mas não vás contra aquilo em que acreditas.
Existe sempre mudança! E as coisas mudaram muito. O mundo dá muitas voltas e bastaram três voltas ao Sol para que a nossa pessoa tivesse a oportunidade de considerar a existência do cinzento. Para alguém como nós a existência do não absoluto, do incerto, do estranho ou do "nunca na vida" posto em prática vem ameaçar aquilo pelo qual temos vindo a trabalhar para termos um pouco de descanso: um plano bem definido. Durante estas três translações o nosso tão belo e bem definido plano foi destruído. Admirada? Ah pois, agora não passamos de mais uma aluna do 12º ano perdida da vida.
Por favor, não entres em pânico, mas relaxa, nós estamos bem! A presença do cinzento pode ter abalado a nossa zona de conforto mas não há mal porque dentro dela não acontece nada de mal mas também não acontece nada de bom ou de marcante. O reconhecimento do cinzento abriu portas à incerteza que nos deu asas para ponderar outras opções. Deu-nos asas para voar para além daquilo que achamos que queremos, deixando-nos vislumbrar tudo aquilo que podemos vir a querer se nos permitirmos arriscar e considerar o desconhecido; partir para a aventura.
Não te desgastes demasiado a pensar em coisas que te ultrapassam. Não penses tanto no futuro. Não percas tempo com aquilo que te atrasa, usa o teu tempo a melhorar-te enquanto pessoa.
Melhora-te enquanto estudante mas dá uma atenção especial ao teu melhoramento pessoal. Não vais ser para sempre estudante, mas serás sempre uma pessoa, não te esqueças disso. Ser um óptimo aluno mas uma pessoa vazia não traz felicidade, nem sucesso.
Rodeia-te de pessoas que te valorizem, que te acrescentem algo. Não deixes que ninguém te faça pensar que precisas de alguém que te complete. Tu é que tens de te completar, os outros que te transbordem! Mas só se forem dignos disso.
E por último, mas não menos importante: diverte-te! Aproveita enquanto podes.
Como três translações mudam tanto!
mj

terça-feira, 21 de julho de 2015

Zugzwang

Hoje escrevi um texto ao contrário. Quebrei ligeiramente a minha rotina de escrita e iniciei o texto pelo título porque quero de facto falar a cerca desta palavra.
Palavra estranha de facto. Zugzwang. É uma palavra de origem alemã e foi me dada a conhecer pelo melhor filme que vi até hoje, intitulado "Mr. Nobody". Há tantas coisas incrivelmente importantes que são abordadas por este filme.
Zugzwang é um termo ligado ao xadrez. Designa uma situação em que jogar piora a situação para o jogador. Quando uma peça está numa posição de zugzwang significa que a peça está na melhor posição possível e o jogador sendo obrigado a movê-la piora a situação de jogo.
O filme leva-nos até à resposta da seguinte pergunta:
O que fazer numa situação de zugzwang?
E a minha resposta é que numa situação de zugzwang o ideal é ficar parado.
Na vida muitas vezes deparamo-nos com situações de zugzwang, em que escolher entre duas coisas parece impossível. E parece impossível porque é impossível estar numa posição melhor do que a atual. No filme o personagem principal, Nemo Nobody, diz "Desde que não se escolha as possibilidades são infinitas". Nunca sabemos o que advém de uma escolha e isso é assustador.
O filme explora o universo imenso das consequências das nossas escolhas. Ao escolhermos uma coisa em detrimento de outra estamos a abrir novos horizontes mas também estamos a fechar todas as outras possibilidades que a outra coisa nos poderia oferecer. Será que seríamos mais felizes? Será que teríamos mais sucesso? Será?
A vida de facto é uma grande situação de zugzwang, somos diariamente bombardeados com escolhas. E não escolher é a melhor situação possível. A escolha limita as nossas possibilidades. Mas somos obrigados a escolher. Somos forçados a tomar uma decisão.
Outra coisa que este maravilhoso filme, que conta com uma brilhante interpretação de Jared Leto, nos ensina é que mesmo que nós soubéssemos previamente o que aconteceria se seguíssemos este ou aquele caminho, se soubéssemos onde cada uma das nossas opções nos levariam, continuaríamos a ser incapazes de escolher.
Não é o desconhecido que nos assusta quando temos de escolher. Mas sim o que poderá ter ficado para trás.
Por vezes o melhor é mesmo ficar parado.

mj


sexta-feira, 26 de junho de 2015

Chocolate quente.

Passeámos pela cidade o dia todo e finalmente chegara o momento pelo qual o coração dela ansiava secretamente. Entrámos naquele café, sempre com ar acolhedor, que nos abraça à entrada como que gritando "Bem-vindo a casa". Sentámo-nos na mesa do canto, aquela com as cadeiras aos xadrez. A rapariga que estava a atender veio até nós e entregou-nos o menu. Ficámos cerca de dez minutos a tentar escolher. Bem, na verdade fui o único que estive a escolher porque apesar de ela fingir que percorria a lista dos produtos muito atentamente eu sabia, melhor que ninguém, que antes dela entrar naquele pequeno estabelecimento de bairro ela já sabia o que queria. Fora assim a vida toda, ou pelo menos durante esta pequena vida que partilhámos até agora, foi sempre determinada, sempre racional e tinha sempre um plano pré-definido.
Quando finalmente a menina veio tomar nota dos nossos pedidos, eu pedi algo, que muito sinceramente já nem sei o que era. E ela, com aqueles olhos arrebatadores, como quem está cheia de certezas, olha determinada para aquela rapariga e como se falasse noutra língua disse:
- Queria um chocolate quente, por favor.
Consegui notar a incredulidade da rapariga ao ouvir tal pedido. Não a culpo por estar surpreendida, afinal estamos em pleno Agosto e estão 38ºC lá fora.
É por isto que eu a amo. Por estas coisas que são só dela, que fazem dela este ser maravilhoso. Amo a determinação com que ela diz que quer um chocolate quente, como desafia as leis daquilo que seria aceitável pedir num dia de Verão. Amo a forma como ela se destaca em qualquer sítio que seja, como ela se destaca da população feminina que provavelmente pediria um chá frio ou um batido. Amo todas as contradições que ela representa; como é demasiado envergonhada para passar por um grande grupo de pessoas sozinha mas como fica segura ao pedir um chocolate quente num dos dias mais quentes do ano.
Meu Deus, como me perco ao falar dela!
Não consigo decifrar ao olhar para ela se está ansiosa para que o seu pedido seja satisfeito ou se está tranquila por estar ali, por saber que o seu pedido está a ser executado.
E por fim é lhe colocado à frente uma caneca com o "líquido dos deuses".
Ela tem uma teoria. Já a ouvi milhares de vezes mas seria capaz de a ouvir todos os dias. Para ela o chocolate quente não foi feito (somente) para dias de Inverno, em que faz frio lá fora e o conforto de casa nos chama para perto de uma lareira. O chocolate quente foi feito para aquecer a alma, para derreter o gelo do nosso pensamento, para fundir os pedaços partidos do nosso coração.
- Existem almas frias todas as estações. Não importa a temperatura que está lá fora. Todos os dias existem desilusões, todos os dias podemos sentir frio na alma.
Amo a forma como ela explica esta teoria, esta e outras. Amo o quanto ela defende as suas crenças. Amo como ela depende de pequenos rituais para dar coesão à sua vida.
Mais uma vez perdi-me a falar nela...
Gostava que estivessem lá para ver. Para verem a forma ridiculamente bonita dela sorrir. Como os olhos dela brilham tal e qual dois diamantes. Parece uma criança a quem foi dado o mundo.
Naquele momento em que ela sorri como se tivesse tudo e não precisasse de nada pelo simples facto de ter à sua frente uma caneca de chocolate quente eu sou o homem mais feliz do mundo. É assim que eu sou feliz. Sou feliz quando sou ofuscado pelo sorriso dela.
Amo a simplicidade dela. Amo a forma como ela tira proveito das pequenas coisas que a muitos parecem insignificantes. Amo a forma como ela vê a caneca vazia e diz muito calmamente
- Não fiques triste por ter acabado, mas feliz por ter acontecido.
Não sei se o diz porque acha poético ou se diz simplesmente para se auto-confortar.
Amo a forma como por vezes ela sorri para mim, assim do nada e eu penso para mim "Será que tenho uma caneca de chocolate quente atrás de mim?". Mas olho em volta e somos só nós. E aí sinto-me o homem mais sortudo do mundo porque apesar de ambos sabermos que nunca serei capaz de lhe trazer a felicidade e satisfação que o chocolate quente lhe oferece sem trazer comigo uma mão cheia de coisas meias amargas, para aquele ingénuo e enorme coração eu sou merecedor de um sorriso tão maravilhoso como o dela. E nesse momento eu sei que ganhei o dia.

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mj

sábado, 13 de junho de 2015

Control Freak

Hoje aconteceu algo que nunca julguei ser possível, pelo menos não para mim que sou uma autentica control freak. Tirei a noite de folga. Por uma noite deixei os meus pensamentos fechados sabe-se lá onde, esqueci tudo aquilo em que tinha de pensar e permiti-me por umas horas sentir a dormência que há tanto tempo o meu corpo e alma pediam.
Saí, ri às gargalhadas, fiz pessoas que gosto sorrir, fui simpática, senti-me cheia de energia ainda que na realidade não sentisse nada. Fui exatamente aquilo que os outros esperam de mim: forte e feliz. Agi como se tudo estivesse bem porque durante aquele período de tempo estava, não havia nada de errado porque na verdade não havia nada. Permiti-me esquecer. Permiti-me, ainda que apenas uma noite, ser uma tontinha feliz. E assim aconteceu, por uma noite fui uma tontinha feliz, alheada de tudo, dormente de todo, indiferente a tudo o que tem acontecido. Permiti-me não pensar em tudo o que ainda tenho por fazer, todas as decisões e todos os eventos que se avizinham e que provavelmente decidirão o meu futuro. Por momentos, senti-me como há muito não sentia, senti-me livre.
Mas eu também sou naturalmente esquecida e por isso esqueci-me de esquecer, assim que cheguei a casa e todas as distrações ficaram para trás. Tudo caiu em cima de mim, tudo aquilo que tinha guardado durante aquelas ingénuas horas atingiram-me como flechas no coração, rápidas, silenciosas e fatais. E fui obrigada a lembrar; todos os medos, todos os receios, todas as indecisões, todas as preocupações, todos os erros, todas as mágoas.
A minha anestesia havia acabado e devagar ia voltando a ganhar sensibilidade. E num instante dei por mim a sentir tudo outra vez. A sentir a verdadeira Maria a crescer de novo dentro de mim. A control freak acordara do seu curto sono. E ali estava ela, pronta para mais uma noite em claro, para mais um conjunto de pesadelos sem sentido, para mais umas horas a espremer cada pensamento, cada possibilidade, cada situação até ser demasiado doloroso para continuar. Pensar demasiado também é vício. Pensar demasiado não mata, mas vai matando. E há muitos que morrem e continuam a (sobre)viver. Chegou mais um dia ao fim.

Permiti-me chorar.

mj


segunda-feira, 25 de maio de 2015

Inércia

fonte weheartit
Acho que fui engolida pela inércia. Não, eu não acho, eu tenho a certeza. Afoguei-me numa indolência tal da qual já não consigo sair.
Apenas me deixo levar ao sabor do vento, dos dias que demoram demasiado a passar, consoante a maré. Quis ter o controlo de tudo e agora não tenho o controlo de nada. Sou apenas mais um corpo, que deambula por aí sem qualquer destino e direção, dando encontrões à vida.
Será a adolescência caraterizada por esta apatia? Ou sou só eu? Serei só eu a sentir esta falta de propósito, esta falta de certeza ou de segurança?
A minha vontade tem estado bastante bem definida nos últimos dias. A vontade de nada fazer. A impotência nunca soube tão bem.
O mundo muda lá fora, os dias passam e a mudança continua, e eu aqui, parada, alheada de tudo, os dias continuam a passar e eu não me mexi um centímetro, pelo menos ao que respeita a minha mente. O mundo queima e eu aqui, nesta minha mente meia desfeita, cheia de tudo e ao mesmo tempo sem nada.
Sempre fui alguém do tudo ou do nada. Sempre fui em busca do tudo. Mas talvez o nada combine melhor comigo e com esta minha necessidade de silêncio que sempre tive.
Talvez esta imensa inércia combine melhor com os meus dias cinzentos, talvez até com os outros todos. Talvez possa vir a ser uma daquelas tolinhas felizes, abstraída de tudo. Talvez o nada seja o tudo que todos precisamos. Talvez exista mais felicidade no pacato e ignorante nada que em toda a complexidade e sabedoria de um tudo.
Queremos tudo, talvez por não sermos capazes de apreciar o nada.


domingo, 17 de maio de 2015

5 anos

Cinco anos. Cinco anos é muito tempo. Pelo menos para mim é uma eternidade. Cinco anos é muito tempo para sentir saudades de alguém, é demasiado tempo para sentir este vazio, esta falta de plenitude.
Cinco anos é um acumular de mudanças, ganham-se e perdem-se vícios. Vícios e pessoas. Cinco anos é pouco mais de um terço da minha vida. Um terço da minha vida sem ti. Cinco anos de desgaste, de cansaço, de falta, de carência.
É como viver na prisão e ir riscando na parede os dias que passam, à espera de liberdade. Mas para isto não há liberdade. Não há liberdade para a saudade, não há desfecho na morte.
Dizem que com o tempo fica mais fácil, ou talvez seja nisso que nós, humanos ingénuos, queremos acreditar. O tempo não cura tudo, pelo simples facto de não curar a morte. Merecias mais. O tempo não cura, apenas te põe anestesiado.
Lutaste, eu sei que lutaste. E jamais te poderia pedir para lutares mais. A vida é que devia ter lutado por ti, devia ter visto o imenso valor que tu tens.

"Quando vais a um jardim que flores colhes primeiro?
As mais bonitas!"

A minha alma está como este texto, desconsertada. Tenho saudades tuas. Tenho sempre saudades tuas. És o texto que eu nunca vou puder terminar. 
Amo-te, avô.

mj


sexta-feira, 24 de abril de 2015

Parabéns, avô.

Parabéns. Desculpa estas palavras virem tão tarde. Mas antes tarde que nunca. Gostava de te poder explicar. Há tanta coisa que ficou por explicar e por dizer. Sempre que me lembro de ti, e garanto-te que isso acontece todos os dias, fico sem palavras, coisa que não é muito usual.
Tenho saudades tuas, pronto, já disse. Sinto a tua falta todos os dias, mas ao mesmo tempo sinto-te sempre comigo, como se me estivesses a proteger. E isso dá-me força e esperança para continuar.
Isto não é fácil para mim. A morte é complicada e eu não estava pronta para lidar com isso, ainda não estou. Será que há mais alguma coisa depois? Espero que sim, espero que estejas em paz. Espero que tenhas encontrado por fim sossego porque se há alguém que merece és tu. Não sei falar de ti no pretérito porque continuas muito presente em mim.
O passar do tempo não leva a saudade, só a aumenta. Mas leva as memórias. A memória do teu aspeto, a memória do teu jeito e a memória da tua voz. 
Se de facto existe algo depois, gostava de saber se me tens observado. Gostava de saber o que pensas de mim, do ser em que me tornei e que aos poucos vou tentando construir e aperfeiçoar. Espero que tenhas orgulho em mim. Porque eu tive tenho muito em ti.
Se há algo que me deixa feliz é saber que tenho um pouco de ti em mim. Que parte do teu DNA, seja em que quantidade for, está no meu, a correr nas minhas veias. Obrigada por teres sido quem foste em vida. Obrigada por seres um exemplo a seguir.
Só damos valor quando perdemos. Gostava que as coisas tivessem sido diferentes. Quem me dera não te ter perdido.
Há tanta coisa que gostava que soubesses. Tanta gente que gostava de te apresentar. A minha felicidade deixou de ser completa sem ti, não é passível de ser completa. Há um espaço em mim que é impossível ser preenchido, seja por quem for, porque é o teu lugar. Só teu.
Gostava que soubesses que tenho sempre saudades tuas. E que me lembro sempre de ti. Fazes-me falta todos os Natais, todos os aniversários e 24horas por dia, 365 vezes ao ano.
Desculpa a demora. Desculpa tudo o que ficou por dizer e fazer.
Amo-te. E amarei sempre. E serás sempre lembrado enquanto eu respirar e levar-te-ei comigo para o resto da minha vida. És dos homens mais importantes da minha vida.
Parabéns. O dia 25 de abril não é (só) dia da liberdade, é o teu dia.
Amo-te, avô.
Da tua neta,
Maria João.

fonte: weheartit 



quarta-feira, 1 de abril de 2015

Perda e mudança.

Hoje olho para trás e chego à conclusão que de facto perdi muita coisa. Muita coisa, muita gente ficou para trás. Pessoas com as quais nunca me imaginei sem, hoje passam por mim como se fosse uma estranha.
A vida é algo estranho não é? Dá tantas voltas. Talvez nunca me tivesse imaginado no lugar em que estou agora.
A verdade é que perdi muito, mas nem tudo foram perdas. Também ganhei, talvez não na mesma proporção, mas aquilo que ganhei valeu a pena o esforço. Encontrei pessoas maravilhosas e redescobri outras.
A vida é algo complexo, vá-se lá entender. Muita coisa mudou e talvez a Maria de há 2 anos não conhecesse a Maria atual. Dizem que nunca nos é dado algo que não consigamos aguentar, e é verdade.Sempre fui muito dependente dos outros e se me dissessem que a pessoa X ou a pessoa Y atualmente não iria estar comigo, talvez eu perdesse a esperança ou talvez não acreditasse. As palavras leva-as o vento e eu descobri que as palavras não servem de critério para saber se uma pessoa é confiável mas sim as ações. Ao final do dia tudo se resume a isso, a ações, a pequenos gestos que mudam e vão moldando a nossa vida. As palavras facilmente são esquecidas, mas há ações que marcam.
Perder, seja o que for, nunca é fácil. Mas a perda fortalece-nos. O que não nos mata torna-nos mais fortes. E aqui estou eu, como nunca me imaginei, com quem nunca me imaginei, sem aqueles a quem tanto me dediquei, mas feliz. Orgulhosa até. A vida vai nos por muitas pedras no caminho e nós temos de as ultrapassar. Nenhuma pedra será maior que tu, e se for é porque tu conseguirás fortalecer-te, crescer até ao ponto em que a derrubarás e não passará então de uma areia no sapato.
Descobri coisas em mim que até então não sabia que estavam cá. As pessoas não são tão frágeis como aparentam ou como se julgam.
Ainda há muito caminho a percorrer, muitos obstáculos a ultrapassar.
Há todo um mundo lá fora e não podemos desistir de nós. Muita gente vai passar na nossa vida, umas vão ficar, outras vão desistir e outras vão entrar na tua vida e mudá-la completamente.
É como em tudo, há quem valha a pena e há quem não mereça nada. Cabe-nos a nós descobrir isso.
O importante é nunca perder a esperança. E não te esqueças de que nunca estarás sozinho! É normal sentires-te perdido, infeliz e chateado; é normal teres alturas em que só queres estar sozinho, mas tudo passa. Nada é definitivo na vida. Vais ficar bem!

mj


fonte: weheartit

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Metamorfose inversa


fonte: weheartit.com
Gostava de voltar a ser criança, de voltar a ser pequena. Gostava de recuperar aquela inocência, aquela tão bonita ingenuidade, aquela capacidade de ver o bom em toda a gente, apesar de ter a noção de que tal característica ainda não se foi completamente.
Pode até parecer um bocado disparatado este meu desejo, porque tudo aquilo que eu queria ser quando tinha 7 ou 8 anos era ser grande, queria ser mais velha. Sempre me achei demasiado “adulta” para a minha idade, demasiado madura. Mas hoje, tendo em conta tudo o que sei e aquilo por que já passei nestes meus singelos 16 anos de vida, não me importaria de voltar àquele tempo onde as preocupações eram poucas ou insignificantes, onde o meu céu não possuía as 3 estrelas que hoje lá brilham, onde os fantasmas que todos os dias deambulam perto de mim não existiam, onde eu não tinha noção do quão cruel o homem é, do quão frio é, onde eu ainda me senti integrada, onde não era assim tão difícil fazer parte de algo, onde as diferenças que hoje são tão notórias não eram tão visíveis.
Naquela altura gostava tanto da escola, tinha tudo planeado, iria provavelmente ser uma professora bem-sucedida ou talvez uma destemida veterinária, adorava aprender, adora ensinar o que sabia; mas há algo muito evidente que permanece comigo desde sempre: o perfeccionismo. Mesmo na escola primária estava presente a Maria João perfeccionista, que tinha a letra bonita, nada falhava ali, e se falhasse seria provavelmente o fim do mundo. Quem corre por gosto não cansa, e eu corria, corria, e nunca me cansava.
Hoje não é assim, hoje ando um bocado perdida, não sei qual é a minha vocação. E agora, deparo-me todos os dias com decisões que irão provavelmente influenciar toda a minha vida profissional. Quando somos crianças somos tão mais determinados, tão mais destemidos; talvez até um pouco temerosos. E talvez o sejamos porque não conhecemos todos os “senão” ou os “se”, implícitos em todas as decisões, mesmo as mais insignificantes. Talvez seja isso que nos falta hoje, aquilo que me falta a mim todos os dias: coragem. Quando somos pequenos somos espontâneos, não temos medo, e mesmo que tenhamos vamos em frente; quando crescemos não somos assim, somos demasiado cobardes, somos envergonhados, somos medrosos. A vida faz-nos assim, porquê?
Quando somos pequenos temos tanto pela frente, tanto que por vezes somos demasiado pequenos para o vermos; porém tudo nos parece tão duradouro, tão eterno, tão verdadeiro. E porquê? Talvez por não termos o coração e a alma corrompidos por coisas más, por mentiras, por desilusões, por um mundo de seres frios.
Gostava de voltar para lá, nem que fosse por pouco tempo. As crianças são o melhor do mundo, e também o melhor de nós. São o nosso estado mais puro. Nós humanos somos o inverso da borboleta. Em criança somos a linda e livre borboleta; e depois ocorre uma espécie de metamorfose inversa e transformamo-nos numa pequena e frágil lagartinha cheia de incertezas.
Mas a vida nunca nos dá mais do que nós podemos suportar. 

 mj
fonte: weheartit.com













 

sábado, 3 de janeiro de 2015

Resoluções para o novo dia.



fonte: weheartit.com

Não vou tentar justificar as minhas perguntas com a minha idade porque do meu ponto de vista todas as idades são idades de “porquês”. Duvido que exista alguém neste mundo que não tenha perguntas sem resposta, questões que têm demasiado medo de perguntar ou interrogações que ainda não foram feitas a pessoas que se interessassem. Sou apenas mais um ser com questões, com confusões e curiosidades. Afinal é a curiosidade e a ambição de querer saber mais que nos leva para a frente, que nos trouxe até hoje.
Agora que toda esta época de festas já passou, é suposto fazermos o quê? Voltarmos para os nossos respectivos mundos, para as nossas pequenas hipocrisias e para os nossos problemas? Porque não podemos estar sempre em festa? Ou só nestas alturas é que se justifica estar em família e colocar os problemas de lado? Todos os dias são dias novos, são novas razões para fazermos planos. Ou só na mudança de ano, é que nós podemos fazer planos, compromissos e ter a intenção de mudar? Devemos ter sempre vontade de mudar, de sermos mais altruístas, solidários, verdadeiros e não só entre o dia 31 de Dezembro e no dia 1 de Janeiro. A mudança, a vontade de autosuperação deve estar sempre presente. Devíamos passar a celebrar sempre que é meia-noite, todos os dias. Ter todos os dias novas resoluções, não para o novo ano mas para o novo dia, porque temos todos os anos 365 (ou 366) oportunidades de sermos melhores, porque não aproveitar?

mj