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Pode até parecer um bocado disparatado este meu desejo,
porque tudo aquilo que eu queria ser quando tinha 7 ou 8 anos era ser grande,
queria ser mais velha. Sempre me achei demasiado “adulta” para a minha idade,
demasiado madura. Mas hoje, tendo em conta tudo o que sei e aquilo por que já
passei nestes meus singelos 16 anos de vida, não me importaria de voltar àquele
tempo onde as preocupações eram poucas ou insignificantes, onde o meu céu não possuía
as 3 estrelas que hoje lá brilham, onde os fantasmas que todos os dias
deambulam perto de mim não existiam, onde eu não tinha noção do quão cruel o homem
é, do quão frio é, onde eu ainda me senti integrada, onde não era assim tão difícil
fazer parte de algo, onde as diferenças que hoje são tão notórias não eram tão
visíveis.
Naquela altura gostava tanto da escola, tinha tudo planeado,
iria provavelmente ser uma professora bem-sucedida ou talvez uma destemida
veterinária, adorava aprender, adora ensinar o que sabia; mas há algo muito
evidente que permanece comigo desde sempre: o perfeccionismo. Mesmo na escola
primária estava presente a Maria João perfeccionista, que tinha a letra bonita,
nada falhava ali, e se falhasse seria provavelmente o fim do mundo. Quem corre
por gosto não cansa, e eu corria, corria, e nunca me cansava.
Hoje não é assim, hoje ando um bocado perdida, não sei qual
é a minha vocação. E agora, deparo-me todos os dias com decisões que irão
provavelmente influenciar toda a minha vida profissional. Quando somos crianças
somos tão mais determinados, tão mais destemidos; talvez até um pouco
temerosos. E talvez o sejamos porque não conhecemos todos os “senão” ou os “se”,
implícitos em todas as decisões, mesmo as mais insignificantes. Talvez seja
isso que nos falta hoje, aquilo que me falta a mim todos os dias: coragem.
Quando somos pequenos somos espontâneos, não temos medo, e mesmo que tenhamos
vamos em frente; quando crescemos não somos assim, somos demasiado cobardes,
somos envergonhados, somos medrosos. A vida faz-nos assim, porquê?
Quando somos pequenos temos tanto pela frente, tanto que por
vezes somos demasiado pequenos para o vermos; porém tudo nos parece tão
duradouro, tão eterno, tão verdadeiro. E porquê? Talvez por não termos o coração
e a alma corrompidos por coisas más, por mentiras, por desilusões, por um mundo
de seres frios.
Gostava de voltar para lá, nem que fosse por pouco tempo. As
crianças são o melhor do mundo, e também o melhor de nós. São o nosso estado
mais puro. Nós humanos somos o inverso da borboleta. Em criança somos a linda e
livre borboleta; e depois ocorre uma espécie de metamorfose inversa e
transformamo-nos numa pequena e frágil lagartinha cheia de incertezas.
Mas a vida nunca nos dá mais do que nós podemos suportar.
mj
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