terça-feira, 22 de julho de 2014

Bloco de barro


(fonte: weheartit)


Há pessoas que nos mudam. Este facto é irrefutável. Dizem que “as pessoas não mudam, revelam-se”. Não posso concordar com tal afirmação, porque se nós não mudamos, o que raio fazemos durante toda a nossa vida? A vida é uma caminhada, é uma aprendizagem e são o meio e as pessoas que nos mudam, que nos moldam. Tanto para bom como para mau.
Mas, definitivamente, há pessoas que nos marcam, que deixam a sua “pegada” em nós, no nosso caminho. Por vezes a única coisa que deixam são cicatrizes e arrependimento, outras deixam memórias que mais tarde sabem bem recordar.
Nesta altura da minha vida, acho que nós deixamos um pouco de nós nas vidas daqueles que tocamos, acho que fica sempre lá um pouco de nós quando entregamos a nossa dedicação a alguém. E acho que são esses bocados de nós, da nossa alma, do nosso ser, daquilo que nos define, que faz com que sejamos lembrados. E o mesmo acontece com o nosso ser, com aquilo que somos, nós somos também em parte aquilo que os outros nos deixam, quando passam pelo nosso caminho. Nós também somos as pegadas dos outros.
Não é só pelo nosso nome que somos lembrados. Por vezes somos definidos pela nossa simpatia, pelo nosso sorriso, pelo nosso perfume e, sem dúvida alguma, pelas nossas acções.
Os caminhos que nós seguimos dependem da pessoa que nós somos. E os outros mudam-nos. E há pessoas que sem dúvidas nos tornam melhores, que nos fazem querer ser melhores. 
Nós somos o que somos graças a um longo percurso de aperfeiçoamento, de passos para a frente e para trás, de arrependimento, de felicidade, de pessoas certas e pessoas erradas. Com o passar do tempo nós vamos mudando, os nossos hábitos mudam, os nossos sonhos são substituídos, mas a matéria prima continua lá, a nossa personalidade que ao longo do caminho talvez possa vir a ser limada e polida vai lá estar. Após o nosso nascimento nós somos um determinado indivíduo, já direcionado para um certo caminho, com o seu próprio feitio e personalidade; a partir daí é como se fosse a criação de uma escultura. Quando nascemos somos um bocado de barro sem forma, mas já com personalidade, já com jeitos e pré-disposições; ao longo da vida vamos sendo esculpidos, os nossos cantos vão sendo limados e aperfeiçoados, vão aparecendo marcas que parece que o tempo não irá apagar, quebramos quando demasiada força é aplicada, mas continuamos a ser barro. Barro, tal como no início, mas com outra forma. E todos nós, damos origem a uma escultura diferente.
Vamo-nos esculpindo a nós próprios, vamos esculpindo os outros e vamos sendo esculpidos pelos outros. 
Ao final do dia, nós somos em parte aglomerados de pedacinhos daqueles que cruzaram a nossa vida. Somos feitos de abraços apertados, de mágoas, de saudades, de amizade, de mãos dadas, de despedidas, de tiques nervosos, de coragem, de ações. Uns cruzam o nosso caminho e ainda nele continuam, olhando na mesma direção que nós e saltando conosco todas as barreiras do percurso, outros passam pelo nosso caminho mas seguem direções diferentes, deixando saudade, nostalgia, talvez raiva ou mágoa ou até dor, mas sem dúvida alguma, deixam uma marca. Uma marca que nos torna mais fortes, que nos define e ensina. Que nos modifica.

MariaJoão

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